Colaboratório de Ciência e Tecnologia Aposta Em Redes Comunitárias Para Integrar Agenda 2030 e Saúde No DF
Brasília – Ferramentas digitais e tecnologias sociais vêm ganhando espaço em comunidades do Distrito Federal, atuando como instrumentos de transformação social e integração de políticas públicas. A iniciativa é coordenada pelo Grupo de Ciência, Tecnologia e Inovação para Gestão e Governança Territorial, criado em 2023 pelo governo local, e conta com a participação de instituições como a Fiocruz Brasília, a Universidade de Brasília (UnB) e a Federação Nacional dos Assistentes Sociais (Fenas).
Entre os destaques está a atuação do pesquisador sênior da Fiocruz Brasília, Wagner Martins, que também coordena o Colaboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade. Martins é um dos responsáveis por articular a iniciativa ao contexto da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), política institucional que orienta a inserção da Fundação nos debates globais de desenvolvimento sustentável.
Agenda 2030 e saúde nos territórios
A proposta do grupo está diretamente ligada ao cumprimento da Agenda 2030 da ONU, que estabelece metas de desenvolvimento sustentável em dimensões sociais, econômicas e ambientais. Ao integrar dados, ensino, pesquisa e ação comunitária, as iniciativas se conectam a objetivos como redução das desigualdades (ODS 10), saúde e bem-estar (ODS 3) e cidades sustentáveis (ODS 11).
Martins explica que o modelo funciona como um “laboratório sem paredes”, em que instituições e comunidades se unem para ativar redes sociotécnicas.
“Nós passamos a ter o papel de promover a integração de políticas públicas e usar a aplicação de projetos nos territórios como elementos estruturantes dessas interações”, afirma.
Inteligência cooperativa e clima
A chamada Inteligência Cooperativa – plataforma desenvolvida com apoio da Fiocruz – conecta diferentes atores para transformar dados em conhecimento. A coleta e análise de dados têm papel central no projeto. Ferramentas digitais e inteligência artificial ajudam a sistematizar informações vindas de redes sociais, notícias e relatos locais.
“É uma fotografia que a comunidade pode passar sobre uma situação, e a inteligência artificial ajuda a transformar isso em conhecimento”, explicou Martins.
A metodologia já vem sendo aplicada em comunidades como Pôr do Sol e Sol Nascente, por meio do projeto Radar de Territórios, que utiliza oficinas de prospecção com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O trabalho também se relaciona à Estratégia Clima e Saúde da Fiocruz, lançada no âmbito da EFA 2030, em 2024. A iniciativa busca enfrentar os impactos da crise climática sobre a saúde pública, sobretudo em áreas vulneráveis, com soluções integradas que envolvem ciência, inovação e participação comunitária.
“Chega-se à ideia do trabalho no enfrentamento da crise ambiental e climática. Esses elementos se incorporam à abordagem para uma saúde mais ampla, uma só saúde, envolvendo vários setores na discussão sobre as condições de vida”, disse Martins.
Vale ressaltar que entre ontem (2) até o próximo dia 10 de outubro, os pesquisadores da Fiocruz estarão em Santa Marta, na Colômbia, para dialogar com representantes da sociedade sobre planejamento territorial e com a Universidade de Magdalena (UniMagdalena). Na pauta, a possibilidade de implementação de um CoLaboratório em parceria com a instituição.

A equipe da Fiocruz será composta pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel; pela diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; e pelos pesquisadores do CoLaboratório, Wagner Martins, Edward Maia, Isabel Miranda e Alba Mendes. Durante a missão, o grupo realizará visita técnica ao território e reuniões com representantes da universidade e da rede sociotécnica da Localidad 1, com o objetivo de desenvolver atividades voltadas ao planejamento estratégico e à definição dos próximos passos da cooperação.
Da horta comunitária à transformação digital
Além da coleta de dados com inteligência artificial, que permite identificar padrões em redes sociais, filmes e notícias, o grupo investe em soluções concretas: hortas comunitárias, cozinhas solidárias e iniciativas de economia local. As ações são pensadas para fortalecer a saúde, a soberania alimentar e a resiliência comunitária.
Para a Fiocruz, experiências como essa reforçam a importância de integrar políticas públicas, ciência e participação social. Elas também evidenciam como a saúde e o clima são dimensões inseparáveis no debate sobre desenvolvimento sustentável.
