EFA 2030 encerra II Seminário Bianual de Saúde e Ambiente na Fiocruz Bahia
A Fiocruz Bahia sediou na última sexta-feira (29/8) a sessão científica “Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030: sinergias entre saúde e clima”, que, conduzida pelo Coordenador da Estratégia Fiocruz Agenda 2030 (EFA 2030), Paulo Gadelha, encerrou a programação do II Seminário Bianual de Saúde e Ambiente, iniciado na segunda-feira (25/8).
Na abertura de sua fala, Gadelha ressaltou que uma tríade estratégica formou-se para o enfrentamento de crises globais interligadas de um ponto de vista climático, social, econômico e sanitário: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o Marco de Sendai e o Acordo de Paris. Estes são documentos que, de algum modo, espelham as virtudes do multilateralismo, hoje fragilizadas por movimentos políticos que priorizam agendas nacionalistas, como o slogan ‘Make America Great Again (MAGA).
O ex-presidente da Fiocruz explicou que a Fiocruz adotou a Agenda 2030 como eixo estratégico de sua atuação dado o fato de esta priorizar o mote de “não deixar ninguém para trás”, o que pressupõe uma mirada para além das médias estatísticas e a concentração de esforços nas populações mais vulnerabilizadas por doenças, pobreza e desastres climáticos.
O papel da saúde na Agenda 2030
Gadelha ressaltou a centralidade do ODS 3 (Saúde e Bem-Estar) na Agenda 2030, com sua ênfase na cobertura universal de saúde e acesso a vacinas, assistência médica e tratamentos, ressalvando que esta deve ser vista de uma forma holística, na medida em que nela determinantes sociais, ambientais e econômicos da saúde estão interligados.
De fato, a relação simbiótica entre a Agenda 2030 e a saúde não lhe passou despercebida, pois a seus olhos se afigura como indicador e condição para o desenvolvimento sustentável. Se a agenda avança, a saúde melhora. Se a saúde retrocede, os ODS ficam comprometidos.
Outro ponto abordado foi a relação entre mudanças climáticas e doenças. Gadelha destacou que o aumento da temperatura, os eventos climáticos extremos e a alteração no padrão de doenças causadas por vetores irão exigir adaptações dos sistemas de saúde. A crise climática, a seu ver, deve ser concebida como uma crise de saúde.
Crise climática e saúde pública
“O aquecimento global é a maior ameaça à saúde humana, e o Acordo de Paris é potencialmente o tratado de saúde mais importante do século XXI” Nas palavras do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, Gadelha vê uma urgente convocação para a integração das agendas climática, sanitária e de desenvolvimento sustentável.
Com 5% das emissões globais de carbono derivadas do setor saúde, Gadelha vê este como um locus fundamental para estratégias de mitigação. No entanto, não convém se esquecer das estratégias de adaptação: a reorganização dos sistemas de saúde, capacitação de profissionais e desenvolvimento de políticas públicas alinhadas à transição climática.
A Fiocruz vem ampliando sua atuação neste campo e já tem pronta a Estratégia Fiocruz Clima e Saúde, bem como planeja a criação de centros especializados como o Centro de Clima e Saúde de Rondônia, já contabilizado como um dos legados do Ministério da Saúde para a COP 30, que acontecerá no mês de novembro em Belém.
Desafios globais e o papel do Brasil
Mas nem tudo são boas notícias. Gadelha lembrou que 75% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 estão estagnadas ou em regressão. A dívida externa dos países em desenvolvimento, os impactos da Covid-19 e a falta de indicadores robustos para aferir resultados seriam algumas das razões do fracasso.
Mas ainda há que se conservar uma gota de esperança, dado o papel estratégico que o Brasil tem assumido no cenário global ao pautar debates sobre ciência, tecnologia e inovação e revelar liderança no campo da defesa da equidade. É do Brasil, por exemplo, a proposta já reconhecida internacionalmente de incluir, na Agenda 2030, o ODS 18, orientado para o combate ao racismo estrutural.
O papel do multilateralismo em tempos de retorno do obscurantismo foi abordado por Gadelha. Ele também criticou o crescimento do negacionismo climático e afirmou que nesse contexto a Fiocruz tem procurado articular ciência, políticas públicas e saberes tradicionais, materializados em iniciativas como o Programa Integrado de Territórios Saudáveis e Sustentáveis (PITSS) e a Vigilância Popular em Saúde, já incorporados pelo Ministério.
Preparação para a COP30 e próximos passos
Para o coordenador da EFA 2030, a participação da Fiocruz na preparação da COP30 será um divisor de águas na integração entre saúde e clima. Segundo ele, a instituição neste momento está envolvida em articulações com redes científicas, organizações internacionais e movimentos sociais para colocar a saúde como eixo central nas negociações sobre o clima.
Gadelha anunciou também que serão apresentados nos eventos preparatórios e na própria COP 30 a Rede de Saúde e Clima Brasil e o lançamento do Corredor de Tecnologias Sociais, voltado para experiências com comunidades tradicionais na Amazônia.