Vacinação e soberania sanitária colocam Brasil no centro dos debates da Expo Osaka 2025

Por Claudio Cordovil e Vinicius Ameixa (EFA 2030)
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Paulo Gadelha apresenta SUS e inovação vacinal da Fiocruz como pilares de cobertura universal e resposta climática no Visionary Exchange

Durante o fórum Visionary Exchange (em português Troca Visionária), realizado nesta quinta-feira, à noite (27/6, horário de Brasilia), na Semana do Bem-Estar e Inovação em Saúde da Expo Osaka 2025, o Brasil teve papel de destaque ao apresentar sua experiência com o Sistema Único de Saúde (SUS) e a liderança da Fiocruz em inovação vacinal. Representando a instituição, o médico e sanitarista Paulo Gadelha defendeu que a cobertura universal em saúde (UHC) só se realiza plenamente quando incorpora um sistema robusto de vacinação, com produção própria, equidade no acesso e combate sistemático à desinformação.

Gadelha, que também é coordenador da Estratégia Fiocruz a Agenda 2030 (EFA 2030), ressaltou que o SUS é um exemplo emblemático de articulação entre saúde como direito, justiça social e resposta integrada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os ligados à erradicação da pobreza, redução das desigualdades e ação climática. No entanto, enfatizou que um sistema público universal não se sustenta sem capacidade produtiva autônoma — e, nesse ponto, o papel da Fiocruz no Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) é decisivo. O CEIS se caracteriza por uma articulação entre Estado, setor produtivo e sistema de ciência e tecnologia voltada à produção de bens e serviços de saúde, essencial para reduzir a dependência externa e garantir sustentabilidade ao SUS.

A questão vacinal dominou boa parte de sua fala. Ele destacou que o Programa Nacional de Imunizações (PNI), apesar de ser uma das maiores conquistas sanitárias do país, enfrenta hoje ameaças concretas: hesitação vacinal, desinformação e queda de cobertura em vacinas essenciais, como a tríplice viral. Para Gadelha, combater essas ameaças exige transparência, educação pública e enfrentamento direto das fake news — ações em que a Fiocruz vem se destacando e que foram reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como boas práticas globais.

Gadelha durante o fórum na expo osaka 2025

O representante da Fiocruz também apresentou os avanços tecnológicos do país, como a produção nacional de vacinas contra a COVID-19 — com mais de 80 milhões de doses fabricadas até abril de 2025 — e o desenvolvimento de imunizantes de mRNA estáveis em temperatura ambiente, tecnologia testada com sucesso no complexo de Bio-Manguinhos. A parceria com o Medicines Patent Pool (MPP) e a adesão à rede CEPI foram apontadas como estratégias para ampliar o acesso e reduzir a dependência de insumos estrangeiros, inclusive por meio de acordos com hubs africanos para transferência de tecnologia.

Gadelha alertou para os gargalos globais de acesso à vacinação, especialmente nos países de baixa renda, onde menos de 40% da população recebeu cobertura completa contra a COVID-19. Afirmou que não há UHC possível sem equidade vacinal e que é preciso ir além da logística: é necessário garantir financiamento, autonomia produtiva e confiança da população nos imunizantes.

Ao comentar a crise climática, lembrou que surtos epidêmicos e eventos extremos, como ondas de calor, tendem a se intensificar — o que exige sistemas de vigilância e resposta rápida integrados a dados meteorológicos. Nesse ponto, saudou os investimentos recentes da Fundação Rockefeller e da Wellcome Trust no fortalecimento da infraestrutura climática-sanitária em países do Sul Global.

A fala de Gadelha se alinha à agenda da OMS para o período 2025–2028, que reconhece a crise climática como prioridade estratégica e propõe reduzir a pegada de carbono dos serviços de saúde. O Brasil, segundo ele, já demonstra protagonismo: presidiu a fundação da Climate Health Coalition na COP29 e defende a triplicação dos investimentos em ações climáticas com impacto direto na saúde até 2035.

Por fim, Gadelha afirmou que a UHC é, acima de tudo, um pacto civilizatório que demanda sistemas fortes, políticas coerentes e compromisso com a equidade. A trajetória do SUS e o papel da Fiocruz, concluiu, são exemplos concretos de que países do Sul também produzem inovação e soluções replicáveis para o futuro da saúde global. A Expo 2025, nesse contexto, serviu como palco para reforçar o papel estratégico do Brasil na construção de uma saúde pública global inclusiva, resiliente e tecnicamente soberana.

As oito semanas temáticas da Expo Osaka 2025

Uma das novidades na programação da Expo Osaka 2025 é a estruturação de sua programação em Semanas Temáticas (Theme Weeks), que compõem o eixo central do evento. 

A estratégia aqui é aprofundar debates, promover a colaboração global e estimular soluções práticas, diretamente conectadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.

Ao longo das oito semanas do evento, são os seguintes os temas em destaque:

  1. Semana da Cocriação de Culturas para o Futuro  (25/4 a 6/5)
  2. Semana do Futuro das Comunidades e da Mobilidade  (15/5 a 26/5)
  3. Semana das Necessidades da Vida: Comida, Vestuário e Abrigo (5/6  a 16/6)
  4. Semana da Saúde e Bem-estar (20/6 a 1/7)
  5. Semana do Aprender e Brincar  (17/7 a 28/7)
  6. Semana da Paz, Segurança Humana e Biodiversidade (⅛ a 12/8)
  7. Semana do Futuro da Terra e da Biodiversidade  (17/9 a 28/9)
  8. Semana dos ODS+Além: Sociedade do Futuro para a Vida (2/10 a 12/10)

Todos os eventos dos quais o coordenador da Estratégia Fiocruz a Agenda 2030, Paulo Gadelha, participa concentram-se na Semana da Saúde e Bem-estar, que vai de 20 de junho a 1 de julho. Depois da atuação da EFA 2030 no Visionary Exchange, a Estratégia, promove as sessões intituladas Saúde e mudanças climáticas: o maior desafio do nosso tempo e Saúde Única na perspectiva da sustentabilidade, respectivamente. Ambas no dia 28 de junho, sábado, a partir das 21h30, horário de Brasília, a convite do Ministério de Relações Exteriores e da APEX Brasil. 

As sessões organizadas pela Fiocruz estarão abertas ao público do evento e serão transmitidas pelo canal do youtube da Expo. 

Acesse os links para acompanhar ao vivo (em inglês)

Mais detalhes sobre as sessões, acesse: https://theme-weeks.expo2025.or.jp/en/program/search/result.html?word=fiocruz 

O Pavilhão Brasileiro

As principais atrações da Exposição Universal, entre as quais a Expo Osaka 2025 se insere, são os pavilhões nacionais, criado pelos países participantes. O Brasil delas participa desde 1862, em Londres. Agora, em 2025, apresenta-se, sob os auspícios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) com um pavilhão de 373 metros quadrados divididos em cinco atos, com direção artística de Bia Lessa, que destacam a cultura e a sustentabilidade do País. “A soma das representações é um apelo à preservação da natureza, à diversidade e à conclamação de todos em torno do bem comum para a humanidade”, segundo informa a página oficial do Pavilhão Brasil na Expo Osaka 2025, comandada pela Apex Brasil. 

Pavilhão brasileiro, reprodução

Fatos e Números sobre a Expo Osaka 2025*

A Expo Osaka 2025 acontece entre os dias 13 de abril e 13 de outubro de 2025, no Japão, na ilha artificial de Yumeshima, situada na baia de Osaka – um espaço de 1,55 quilômetros quadrados.

Durante 184 dias ininterruptos, aproximadamente 28 milhões de pessoas passarão pelas catracas de entrada da Expo entre 9h e 21h para conhecer um pouco da cultura, dos cenários, da população, da gastronomia, entre outros diversos aspectos, dos 158 países participantes.

Há exatos 55 anos aconteceu, também em Osaka, a Primeira Exposição Universal em país asiático – a Expo 1970. Até então as Exposições Universais eram realizadas somente na Europa, ou na América.

Em Osaka 2025, o objetivo é unir a comunidade internacional em um espaço onde as mais recentes tecnologias e inovações contribuam para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.

Com o intuito de incentivar a sociedade global a refletir mais profundamente sobre como cada indivíduo pode contribuir para uma melhor coexistência, a Expo desenvolverá atividades, projetos, ações e discussões sob o tema “Designing Future Society for Our Lives” (Projetando a Sociedade do Futuro para Nossas Vidas).

Print do site do evento

*Reproduzido da página oficial do Pavilhão Brasil na Expo Osaka 2025