Fiocruz destaca saúde e Amazônia em debate sobre legado da COP30 na ONU

Por Cláudio Cordovil – EFA 2030
Publicado em 

Evento paralelo à 80ª Assembleia Geral da ONU discute potencial legado da COP30

No painel COP30 no Brasil e seu legado para o mundo, realizado em modalidade virtual durante a Cúpula de Ciência na Assembleia Geral da ONU (SS-UNGA), especialistas brasileiros defenderam que a Conferência do Clima de Belém, marcada para novembro, deve romper paradigmas e integrar questões amazônicas, marinhas e do semiárido. O encontro reuniu Luiz Galvão (Fiocruz), Marinez Eymael Garcia Scherer (Universidade Federal de Santa Catarina) e Carlos Magno de Medeiros Morais (Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá), que compartilharam perspectivas do Norte, do litoral e do Semiárido brasileiro.

Amazônia e saúde: um desafio global

Reprodução ppt Luiz Galvão

“A COP30 do Pará é o cruzamento da história, da ciência e da responsabilidade”, afirmou Luiz Galvão, pesquisador sênior da Fiocruz e assessor da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030). Para ele, a realização da conferência na Amazônia marca “um momento vital para a diplomacia climática”. Galvão destacou que “a mudança climática é o maior desafio da saúde pública da nossa época”.

Segundo o pesquisador, o Ministério da Saúde está no processo de desenvolvimento de um Plano de Adaptação Climática na Saúde Nacional para a COP30, que prevê o monitoramento de doenças sensíveis ao clima em todos os 27 estados, protocolos para lidar com ondas de calor extremo em hospitais e investimentos em infraestrutura de saúde com energia renovável, sobretudo em áreas vulneráveis, como o semiárido e a Bacia Amazônica.

Galvão também chamou atenção para a gravidade do cenário global: “As temperaturas já estão 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, com risco de atingir 3,2°C até 2100”, citando o IPCC. Ele lembrou que setores produtivos concentram 73% das emissões de gases e 80% das perdas de biodiversidade. Para ilustrar alternativas, mencionou Cubatão (SP), onde investimentos reduziram em 90% os níveis de dióxido de enxofre, e Curitiba (PR), que obteve queda de até 4°C em áreas urbanas com corredores verdes.

O papel essencial do oceano para o Clima e a Vida

“É impossível enfrentar a mudança climática sem olhar para o oceano”, afirmou Marinez Eymael Garcia Scherer, professora da UFSC. Segundo ela, “não há verde sem azul”, reforçando a conexão entre oceanos e florestas. Scherer apresentou resultados da Missão Atlântica, que mapeou pressões sobre a costa sul brasileira, como pesca, mineração marinha e exploração de petróleo e gás.

“O oceano é o grande regulador climático do planeta, cobre 70% da superfície e é nosso aliado fundamental contra as mudanças climáticas”, alertou, destacando a urgência de preservação. Scherer ainda adiantou que o Plano de Ação da COP30 deve incluir objetivos específicos para conservação dos oceanos e ecossistemas costeiros, promovendo mitigação, adaptação e a “economia azul”.

Semiárido como laboratório de resiliência

Carlos Magno de Medeiros Morais, do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, trouxe a perspectiva do Semiárido. “É uma região com mais de 28 milhões de habitantes, maior que muitos países, e densamente povoada”, destacou. Ele lembrou que, nos anos 1980, apenas na Paraíba, mais de 10 mil crianças morreram antes de completar um ano de vida.

Segundo Morais, o Semiárido brasileiro já enfrenta temperaturas próximas de 50°C e perdeu 40% de suas reservas de água natural em poucas décadas. Hoje, 21% da população sofre com insegurança alimentar e 30% com falta d’água. Ele ressaltou ainda a importância da Caatinga, responsável por cerca de 50% do sequestro de carbono do país entre 2015 e 2022, apesar de ocupar apenas 10% do território nacional.

Encerrando sua fala, citou Patativa do Assaré: “A chuva fez o homem fraco, mas o sonho fez o homem forte”, e apelou para que o legado da COP30 seja “um mundo onde ninguém seja deixado para trás e nenhuma mesa seja vazia”.

Diversidade territorial como trunfo brasileiro

Os três especialistas convergiram na avaliação de que Amazônia, oceanos e semiárido devem ser tratados de forma integrada e em pé de igualdade na agenda climática. Para eles, a diversidade territorial brasileira pode ser um trunfo para o país se tornar referência científica, social e ambiental a partir da COP30.

A Cúpula de Ciência, realizada anualmente pela ONU em paralelo à Assembleia Geral, busca aproximar países na formulação de soluções para desafios comuns e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, no que concerne ao desenvolvimento e a adoção de tecnologias.