Por: Vinicius Ameixa (EFA2030/Fiocruz) Na manhã desta terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na abertura da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA 2024), em Nova York. Em uma fala marcada por fortes apelos à cooperação internacional e à justiça social, Lula posicionou o Brasil como uma liderança global em questões ambientais, combate à pobreza e reforma das estruturas multilaterais. Foto: Ricardo Stuckert/PR Compromisso com a Agenda 2030 e Críticas à Implementação Em seu discurso, o presidente Lula reafirmou o compromisso do Brasil com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ele destacou que os desafios globais, como a erradicação da pobreza, a promoção de uma economia inclusiva e a preservação do meio ambiente, exigem uma ação conjunta de todos os países. “A Agenda 2030 não é apenas uma série de metas, mas um plano de ação para um futuro mais justo e sustentável. O Brasil está engajado em liderar esforços que integram crescimento econômico, justiça social e proteção ambiental”, afirmou. No entanto, Lula também fez críticas à implementação da Agenda 2030, destacando que muitas das metas não estão sendo cumpridas, especialmente devido à falta de compromisso dos países mais ricos. Ele argumentou que a falta de financiamento e apoio tecnológico para as nações em desenvolvimento está comprometendo o avanço dos ODS. “Os países ricos falam sobre a Agenda 2030, mas falham em prover os recursos necessários para que ela se torne realidade. Sem solidariedade e redistribuição de riqueza, essas metas continuarão sendo apenas promessas vazias”, criticou. Lula reforçou que, sem um esforço coletivo global e equitativo, será impossível atingir os objetivos até o prazo estabelecido. Mudança climática e Amazônia no centro da agenda Um dos principais pontos do discurso foi o compromisso do Brasil com a agenda climática. Lula destacou os esforços de seu governo para combater o desmatamento na Amazônia e proteger os biomas brasileiros, reiterando que o país está comprometido com as metas do Acordo de Paris. “A Amazônia é um patrimônio da humanidade, e o Brasil faz sua parte para protegê-la”, afirmou. Ele também chamou a atenção para a necessidade de uma transição energética justa, criticando os países ricos por não cumprirem seus compromissos financeiros com as nações em desenvolvimento para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. “Não podemos aceitar que os mais pobres paguem o preço das emissões dos mais ricos”, argumentou o presidente. No discurso, Lula compartilhou dados positivos, como a redução de 33,6% no desmatamento da Amazônia entre agosto de 2022 e julho de 2023, uma das maiores quedas em quase uma década. Esse avanço é resultado de políticas rigorosas de fiscalização e proteção ambiental, além da retomada do Fundo Amazônia, com recursos internacionais para apoiar a preservação do bioma. Lula também cobrou os países desenvolvidos a cumprirem com os compromissos estabelecidos no Acordo de Paris. Ele relembrou que os países do Norte Global prometeram destinar US$ 100 bilhões anuais para ajudar as nações em desenvolvimento a lidar com as mudanças climáticas, mas esse financiamento ainda está muito aquém do necessário. “A transição para uma economia verde precisa ser justa e incluir os países em desenvolvimento”, disse Lula, destacando que sem esse apoio financeiro, os esforços de conservação, como os que ocorrem na Amazônia, ficam limitados. Lula também apontou que a preservação da floresta está diretamente ligada ao combate à desigualdade, uma vez que a sustentabilidade deve estar associada à melhoria das condições de vida das populações locais, incluindo os povos indígenas. Desigualdade e justiça social Lula enfatizou que a desigualdade social é um dos maiores desafios globais e uma barreira para o desenvolvimento sustentável. Ele ressaltou que, segundo dados recentes do Banco Mundial, 719 milhões de pessoas ainda vivem na extrema pobreza, o que representa cerca de 9% da população mundial. Lula destacou que a desigualdade entre países e dentro deles foi exacerbada pela pandemia de Covid-19, que não apenas afetou a saúde das populações mais vulneráveis, mas também ampliou o fosso econômico, prejudicando o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “Não podemos falar em desenvolvimento sustentável sem enfrentar a raiz da desigualdade social”, afirmou o presidente brasileiro. Também houve critica a falta de uma governança econômica global que favoreça os países em desenvolvimento. Ele apontou que, enquanto as economias mais ricas acumulam vastos recursos e poder de decisão em fóruns como o G7, as nações pobres e emergentes continuam a depender de um sistema financeiro internacional desigual. O presidente brasileiro pediu por reformas nas instituições financeiras multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para que suas políticas não perpetuem ciclos de dívida e dependência. Segundo Lula, “os países do Sul Global precisam de uma nova arquitetura financeira que promova o desenvolvimento inclusivo e não os subjugue a condicionalidades prejudiciais”. Embora a Agenda 2030 inclua 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Lula fez uma menção especial à necessidade de se debater a criação de um ODS 18, voltado especificamente à erradicação das desigualdades globais de forma mais direta e incisiva. Ele defendeu que este novo objetivo poderia focar em uma redistribuição mais justa de recursos e poder, reconhecendo o impacto da história colonial e das práticas econômicas injustas sobre o Sul Global. “Não basta apenas reduzir a desigualdade. Precisamos erradicá-la, e isso só será possível se as estruturas de poder globais forem transformadas”, destacou Lula, sugerindo que a inclusão de um ODS 18 fortaleceria a luta contra as injustiças sistêmicas que atravessam as relações entre os países. Liderança na saúde global e inclusão digital Lula destacou a importância da liderança na saúde global, lembrando que a pandemia de Covid-19 revelou não apenas a vulnerabilidade dos sistemas de saúde, mas também a disparidade no acesso a vacinas, tratamentos e infraestrutura de saúde entre países ricos e pobres. Lula citou que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a medicamentos essenciais, um problema que se agrava em regiões de baixa renda. Ele mencionou que o Brasil, como uma das maiores economias emergentes, desempenhou um papel fundamental durante a …
Read more “Lula destaca a Agenda 2030 e uma reforma global em discurso na ONU”