Fiocruz destaca saúde e Amazônia em debate sobre legado da COP30 na ONU

Por Cláudio Cordovil – EFA 2030Publicado em 24/09/2025 Evento paralelo à 80ª Assembleia Geral da ONU discute potencial legado da COP30 No painel “COP30 no Brasil e seu legado para o mundo”, realizado em modalidade virtual durante a Cúpula de Ciência na Assembleia Geral da ONU (SS-UNGA), especialistas brasileiros defenderam que a Conferência do Clima de Belém, marcada para novembro, deve romper paradigmas e integrar questões amazônicas, marinhas e do semiárido. O encontro reuniu Luiz Galvão (Fiocruz), Marinez Eymael Garcia Scherer (Universidade Federal de Santa Catarina) e Carlos Magno de Medeiros Morais (Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá), que compartilharam perspectivas do Norte, do litoral e do Semiárido brasileiro. Amazônia e saúde: um desafio global “A COP30 do Pará é o cruzamento da história, da ciência e da responsabilidade”, afirmou Luiz Galvão, pesquisador sênior da Fiocruz e assessor da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030). Para ele, a realização da conferência na Amazônia marca “um momento vital para a diplomacia climática”. Galvão destacou que “a mudança climática é o maior desafio da saúde pública da nossa época”. Segundo o pesquisador, o Ministério da Saúde está no processo de desenvolvimento de um Plano de Adaptação Climática na Saúde Nacional para a COP30, que prevê o monitoramento de doenças sensíveis ao clima em todos os 27 estados, protocolos para lidar com ondas de calor extremo em hospitais e investimentos em infraestrutura de saúde com energia renovável, sobretudo em áreas vulneráveis, como o semiárido e a Bacia Amazônica. Galvão também chamou atenção para a gravidade do cenário global: “As temperaturas já estão 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, com risco de atingir 3,2°C até 2100”, citando o IPCC. Ele lembrou que setores produtivos concentram 73% das emissões de gases e 80% das perdas de biodiversidade. Para ilustrar alternativas, mencionou Cubatão (SP), onde investimentos reduziram em 90% os níveis de dióxido de enxofre, e Curitiba (PR), que obteve queda de até 4°C em áreas urbanas com corredores verdes. O papel essencial do oceano para o Clima e a Vida “É impossível enfrentar a mudança climática sem olhar para o oceano”, afirmou Marinez Eymael Garcia Scherer, professora da UFSC. Segundo ela, “não há verde sem azul”, reforçando a conexão entre oceanos e florestas. Scherer apresentou resultados da Missão Atlântica, que mapeou pressões sobre a costa sul brasileira, como pesca, mineração marinha e exploração de petróleo e gás. “O oceano é o grande regulador climático do planeta, cobre 70% da superfície e é nosso aliado fundamental contra as mudanças climáticas”, alertou, destacando a urgência de preservação. Scherer ainda adiantou que o Plano de Ação da COP30 deve incluir objetivos específicos para conservação dos oceanos e ecossistemas costeiros, promovendo mitigação, adaptação e a “economia azul”. Semiárido como laboratório de resiliência Carlos Magno de Medeiros Morais, do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, trouxe a perspectiva do Semiárido. “É uma região com mais de 28 milhões de habitantes, maior que muitos países, e densamente povoada”, destacou. Ele lembrou que, nos anos 1980, apenas na Paraíba, mais de 10 mil crianças morreram antes de completar um ano de vida. Segundo Morais, o Semiárido brasileiro já enfrenta temperaturas próximas de 50°C e perdeu 40% de suas reservas de água natural em poucas décadas. Hoje, 21% da população sofre com insegurança alimentar e 30% com falta d’água. Ele ressaltou ainda a importância da Caatinga, responsável por cerca de 50% do sequestro de carbono do país entre 2015 e 2022, apesar de ocupar apenas 10% do território nacional. Encerrando sua fala, citou Patativa do Assaré: “A chuva fez o homem fraco, mas o sonho fez o homem forte”, e apelou para que o legado da COP30 seja “um mundo onde ninguém seja deixado para trás e nenhuma mesa seja vazia”. Diversidade territorial como trunfo brasileiro Os três especialistas convergiram na avaliação de que Amazônia, oceanos e semiárido devem ser tratados de forma integrada e em pé de igualdade na agenda climática. Para eles, a diversidade territorial brasileira pode ser um trunfo para o país se tornar referência científica, social e ambiental a partir da COP30. A Cúpula de Ciência, realizada anualmente pela ONU em paralelo à Assembleia Geral, busca aproximar países na formulação de soluções para desafios comuns e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, no que concerne ao desenvolvimento e a adoção de tecnologias.

Fiocruz integra esforços do governo no ODS 18, voltado ao combate ao racismo e à desigualdade étnico-racial

Por Carlos Gustavo Trindade – EFA 2030Publicado em 23/09/2025Brasília — Nesta sexta-feira (19), foi oficialmente assinada uma portaria interministerial que estabelece metas e indicadores para o ODS 18 — Igualdade Étnico-Racial, voltado ao combate ao racismo e à discriminação contra povos indígenas e afrodescendentes. O ato ocorreu no encerramento da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), com participação da Secretaria-Geral da Presidência, do Ministério da Igualdade Racial e do Ministério dos Povos Indígenas, e reuniu cerca de 1.700 delegados após 7 anos de hiato. A proposta de criação da ODS 18 partiu do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso na 78ª Assembleia da ONU, em 2023, nos EUA. Ele esteve na abertura da Conapir, no dia 15. O ministro-chefe da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, entregou o Caderno de Resposta da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), documento que lista as demandas quilombolas e detalha ações que 20 órgãos do governo federal já desenvolvem ou estão planejando. Titulação de terras quilombolas ganha urgência A Conaq reivindica que haja prazos concretos para regularização fundiária, reconhecimento, demarcação e titularidade das terras quilombolas, propondo um período de cinco anos para conclusão desses processos. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que embora o processo de titulação seja complexo — dividindo-se em nove etapas sob responsabilidade do Incra — há avanços, mas que será necessário “vontade política” em todos os níveis federativos para acelerar o trâmite. O que dizem os especialistas Para a socióloga Sueli Carneiro, referência em estudos sobre desigualdade racial, a institucionalização do ODS 18 “é um passo histórico, mas só será efetiva se for acompanhada de orçamento robusto e mecanismos de monitoramento com participação social real”. Ela avalia que, embora o governo tenha sinalizado avanços, o risco é que a iniciativa se limite a “ato simbólico sem impacto direto na vida das comunidades”. Já o economista Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea, lembra que a definição de indicadores pode ser decisiva para medir resultados. “O Brasil tem histórico de criar políticas públicas sem sistemas consistentes de avaliação. O ODS 18 pode corrigir isso, desde que haja transparência e dados confiáveis.” Para analistas de relações internacionais, o ODS 18 também projeta o Brasil como ator global na agenda de direitos humanos. “O país passa a ocupar um espaço estratégico no debate internacional ao pautar o racismo como questão de desenvolvimento sustentável”, explicou Carlos Milani, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. Monitoramento, pesquisa e participação Além da portaria, foi anunciado investimento de R$ 1 milhão para projetos de pesquisa que fortaleçam o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade (Sinapir). Também foi entregue o caderno de respostas Conaq, e Macêdo enfatizou que a comunidade quilombola deve acompanhar a execução das políticas, cobrar resultados e monitorar o cumprimento das determinações presidenciais relativas à igualdade racial. Indicadores e estrutura O ODS 18 já conta com metas e indicadores definidos: são 10 metas principais, 65 indicadores principais e 68 adicionais, elaborados de forma participativa, com contribuições de órgãos como IBGE, IPEA e Fiocruz, além da sociedade civil. A validação desses indicadores foi feita pela Câmara Temática ODS 18, vinculada à Comissão Nacional para os ODS (CNODS), órgão que reúne entidades do governo e da sociedade civil e da qual a Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030) compõe o corpo de assessoria técnica. O que ainda está em jogo Especialistas e representantes das comunidades lembram que a assinatura da portaria é apenas o começo de uma agenda que terá de enfrentar entraves históricos e burocráticos. O desafio da titulação de terras quilombolas, por exemplo, é emblemático: há comunidades que esperam décadas por esse reconhecimento legal. Além disso, para se tornar efetiva, a nova política dependerá de: alocação orçamentária suficiente para implementar as metas; articulação federativa entre União, estados e municípios; mecanismos de transparência e participação que permitam avaliação pública dos avanços; continuidade institucional, para que mudanças não se limitem a atos simbólicos.

Rede de Defensoras e Defensores dos Territórios Tradicionais terá expansão nacional

Por Juliana Villas (OTSS/Fiocruz) Publicado em 10/09/2025 O 1º Encontro Nacional da Rede de Defensoras e Defensores dos Territórios Tradicionais reuniu lideranças tradicionais de todo o país na Ilha de Maré (Salvador), entre 30 de agosto e 5 de setembro. Criada em 2022 a partir de uma articulação do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (OTSS), uma parceria entre a Fiocruz e o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, por iniciativa de sua Ouvidoria-Geral, a Rede prepara agora uma expansão nacional, com novas parcerias – com defensorias públicas e ouvidorias –, num processo contínuo de aprendizagem, ensino e troca de saberes com lideranças de povos e comunidades tradicionais (PCTs) da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Pará, Paraná e Santa Catarina, além de São Paulo e Rio de Janeiro, estados onde já atua em 7 municípios e 32 comunidades indígenas, quilombolas e caiçaras. Mais de 80 lideranças tradicionais passaram por formação para melhorar o acesso à Justiça em temas como saúde coletiva, enfrentamento ao racismo ambiental, protocolos de consulta e regularização fundiária (Foto: OTSS/Fiocruz) “Nós somos uma rede. E nada se constrói da noite para o dia. O OTTS tem 16 anos, o FCT vai fazer 20 em 2027 e a Fiocruz tem 125. Então, não estamos apenas encerrando ou festejando um processo que teve resultados. Estamos comemorando a abertura de outra possibilidade, de uma articulação grande e nacional, de um futuro maior que a gente já consegue antever”, pontua o coordenador-geral do OTSS e pesquisador da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Edmundo Gallo. A Rede impulsiona a formação continuada, permitindo que demandas urgentes e denúncias de lideranças de PCTs sejam encaminhadas mais rapidamente. “A Rede nasceu da urgência em avançar na educação para acesso à justiça e na redução de violação de direitos dos povos e comunidades tradicionais. É uma resposta inovadora da Ouvidoria-Geral e da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que foi abraçada pelo FCT e pelo OTSS, e logo se fortaleceu com a entrada da Ouvidoria e defensoria públicas do Estado de São Paulo e da União. Hoje as lideranças têm um canal direto com a Ouvidoria do Rio de Janeiro, o que significa resposta rápida a violações de direitos”, explica o advogado do FCT e do OTSS, André Della Nina Lopes. O modelo inovador foi reconhecido nacionalmente, ao receber o selo Prática Antirracista do Conselho Nacional de Ouvidorias das Defensorias Públicas. “Após a premiação da iniciativa, identificamos a Rede como uma ferramenta para impulsionar a formação de ouvidorias-gerais e suas equipes, bem como de defensoras e defensores públicos em temas como justiça climática, patrimônio biocultural, sociobiodiversidade e questões relacionadas aos povos e comunidades tradicionais, como a gestão costeira e marinha”, comenta a presidente do Conselho Nacional de Ouvidorias Públicas e ouvidora de Santa Catarina, Maria Aparecida Caovilla. A Rede recebeu o prêmio Defensorar na categoria Defesa do Território, entregue pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPE-RJ) em 2024. “Os resultados demonstram que a aproximação entre as comunidades e o sistema de justiça pode fortalecer a defesa dos territórios tradicionais e influenciar as políticas públicas. A Rede inova impulsionando o diálogo horizontal de saberes entre o conhecimento jurídico e o tradicional, contribuindo para a formação de defensoras e defensores públicos, bem como de ouvidores e lideranças”, celebra a coordenadora político-pedagógica da Rede, Júlia Borges. Do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba (SP), Laura Braga ressalta a dimensão prática da experiência: “Foi por meio da Defensoria que conseguimos o reconhecimento e o título da nossa terra. A Rede nos dá respaldo e legitimidade”, afirma. O coordenador-geral do OTSS/Fiocruz e do FCT, Vagner do Nascimento, destaca o impacto político: “A formação em parceria com as defensorias e ouvidorias da União, do Rio e de São Paulo tem tido uma repercussão muito positiva nas comunidades. Isso mantém viva uma das principais bandeiras do FCT: a defesa dos territórios tradicionais”, garante. De 2022 a 2024 a Rede formou lideranças tradicionais, certificou com crachás de “parceiros das defensorias”, promoveu 320 horas de atividades formativas, consolidou canais diretos de comunicação com ouvidorias e defensorias e obteve o reconhecimento institucional que permite a expansão para outros estados. Mais de 80 lideranças tradicionais passaram por formação para melhorar o acesso à Justiça em temas como saúde coletiva, enfrentamento ao racismo ambiental, protocolos de consulta e regularização fundiária. Todos os detalhes da trajetória da Rede de Defensoras e Defensores estão organizados no relatório Defensoras e defensores dos territórios tradicionais – Impactos e resultados. O documento pode ser acessado na íntegra.

Fiocruz atua no conceito de Uma Só Saúde com população da BR-319

Por Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia) Publicado em 09/09/2025 A Fiocruz, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Evandro Chagas (IEC), está realizando um levantamento sorológico inédito ao longo de um trecho de aproximadamente 800 quilômetros da BR-319 — estrada federal que liga Manaus a Porto Velho — visando identificar a presença de anticorpos contra patógenos causadores de doenças como leptospirose, hantavirose, febre oropouche, dengue, febre mayaro e chikungunya, entre outras. A relevância do projeto está na possibilidade de subsidiar políticas públicas voltadas para a população dessas áreas, a partir do conhecimento direto sobre o estado de saúde delas. Das amostras humanas analisadas até o momento, mais de 50% das cerca de 300 pessoas testadas apresentaram resultado positivo para anticorpos IgM contra o vírus oropouche (Orov), indicando infecção recente. Equipe vai a campo para trabalho de coleta de amostras sanguíneas (Foto: Fiocruz Amazônia)   O objetivo do estudo é avaliar, no contexto do conceito One Health (Uma Só Saúde), como a degradação ambiental pode influenciar a dinâmica de circulação de vírus emergentes e reemergentes na região amazônica. A abordagem considera a saúde humana, animal e ambiental de forma integrada, buscando compreender de que maneira o modo de vida local, a interação com a floresta e as transformações ambientais impactam o risco de doenças. O Orov é um arbovírus transmitido principalmente por pequenos insetos do gênero Culicoides (maruim ou mosquito-pólvora) e, até poucos anos atrás, sua ocorrência estava majoritariamente restrita ao bioma amazônico. No entanto, após uma grande epidemia de Orov na Amazônia brasileira em 2023-2024, surtos passaram a ser registrados em diferentes estados e até em outros países da América Latina, aumentando a preocupação com seu potencial de dispersão. Por apresentar sintomas semelhantes aos de outras arboviroses, como febre, dor de cabeça e dores musculares, o Orov pode ser facilmente subdiagnosticado. O trecho em estudo inclui comunidades como Igapó Açu e Realidade, além de diversos pequenos povoados ao longo da rodovia, onde são realizadas expedições periódicas do projeto. Cada expedição dura, em média, 20 dias, tempo suficiente para coletas de sangue, entrevistas com moradores e ações de educação em saúde. Denominado Rede Pampa-BR 319, o projeto começou há três anos e, ao final, pretende apresentar um diagnóstico integrado com dados ecológicos, demográficos e clínicos. O trabalho é coordenado pelo pesquisador em Saúde Pública Pritesh Lalwani, da Fiocruz Amazônia, em parceria com os pesquisadores José Luiz Modena (Unicamp), que acompanha o trabalho no Amazonas, e Lívia Martins (IEC), que desenvolve diagnóstico semelhante na região de mineração de Carajás, no sudeste do Pará. O projeto conta com financiamento das fundações de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), de São Paulo (Fapesp) e do Pará (Fapespa), no âmbito do edital Amazônia+10, do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap). O projeto tem a colaboração da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS), Prefeitura de Humaitá, Universidade de Kentucky e Universidade de Washington. Segundo Lalwani, “o projeto surgiu de um diálogo sobre o impacto histórico da abertura de estradas no Brasil, que em vários casos esteve associado ao aumento de doenças infecciosas. Na BR-319, parte da estrada já é asfaltada, mas há longos trechos sem pavimentação. Queremos entender como as pessoas vivem na região e quais os principais desafios de saúde existentes”, resume. O pesquisador ressalta que compreender o impacto das ações humanas sobre o meio ambiente é essencial para antecipar e mitigar riscos sanitários. Embora a relação causal entre degradação ambiental e o surgimento de novas doenças infecciosas ainda esteja sendo investigada, estudos sugerem que mudanças no uso da terra, desmatamento e proximidade maior entre pessoas, animais domésticos e fauna silvestre podem estar associadas ao aumento de doenças zoonóticas. “Nosso projeto busca gerar evidências concretas para avaliar como esses fatores interagem. Alterações ambientais, como o desmatamento, podem modificar o habitat de vetores e reservatórios, criando condições que favorecem a transmissão de patógenos. Ao entender essas dinâmicas, podemos orientar medidas de prevenção mais eficazes”, explica. O diagnóstico produzido pelo projeto servirá como linha de base para comparações futuras, especialmente após o recapeamento da BR-319, permitindo avaliar se as mudanças na infraestrutura e no uso da terra vão influenciar o risco e a ocorrência dessas doenças. “Com esses indicadores, poderemos propor estratégias e fortalecer o acesso do SUS a essas comunidades”, destaca. Integração institucional A Fiocruz Amazônia vem atuando para ampliar a integração institucional entre grupos de pesquisa em saúde e meio ambiente na região. Para a vice-diretora de Pesquisa e Inovação da Fiocruz Amazônia, Michele Rocha El Kadri, um diagnóstico organizacional feito entre 2015 e 2016 já apontava a transversalidade dos temas saúde e ambiente nas pesquisas da instituição. “A análise de vários projetos mostrou que saúde e ambiente eram temas conectados, mas essa conexão nem sempre era percebida de forma explícita. Hoje, essa relação é vivida de forma muito concreta”, avalia. Para El Kadri, o estudo sobre o impacto causado pelas mudanças climáticas e a degradação ambiental na saúde é uma das oportunidades de alavancar recursos e dar visibilidade as ações desenvolvidas na Fiocruz no protagonismo da agenda saúde e ambiente na Amazônia. “Temos uma diversidade muito potente de expertise nos nossos laboratórios que vai desde a pesquisa clínica ao diálogo com medicina indígena, ou desde o desenvolvimento de novos testes diagnósticos à educação ambiental com comunidades. Além disso, somos reconhecidos como instituição de formação de pessoas para o SUS. A questão é como converter nosso capital político e científico em ações concretas na agenda da saúde nos territórios amazônicos. Nossa capacidade de influenciar políticas públicas de alimentação, saúde, saneamento, cultura de paz etc. passa necessariamente pela nossa capacidade de trabalhar com as pessoas no território”, avalia. Na Fiocruz Mais na FiocruzFiocruz Amazônia

Repositório Saberes Populares promove construção coletiva de conteúdos digitais e incorpora coleções com cinco favelas do Rio

Por Assessoria de Comunicação da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz * Com informações de Thiago Ferreira, do Repositório Temático Saberes Populares. Publicado em 05/09/2025 No dia 28 de agosto, o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação em Saúde (CTIC) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) recebeu o encontro inaugural do Repositório Temático Saberes Populares que reuniu lideranças de favelas da cidade do Rio de Janeiro. A ação é desenvolvida como subprojeto da iniciativa Impulso de Gerações, coordenada pela Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. A reunião foi realizada a partir da apresentação e relatos de atuação dos bolsistas do projeto Impulso de Gerações representantes das favelas de Manguinhos, Maré, Cidade de Deus, Rocinha e Rio das Pedras, além de uma representação do site de notícias RioOnWatch, referência na apresentação das perspectivas das favelas sobre transformações urbanas do Rio, que atuará com a produção jornalística sobre os cinco territórios.   O repositório temático é desenvolvido em acesso aberto através do software DSpace, plataforma gratuita e de código aberto utilizada para armazenamento e organização de produção intelectual e conteúdos digitais de pesquisa. O objetivo é tornar o Repositório Saberes Populares um espaço de valorização, preservação e difusão das memórias faveladas, periféricas e de comunidades tradicionais, garantindo que essas narrativas sejam registradas, compartilhadas, ressignificadas e construídas pelas próprias comunidades locais.   Para Monara Barreto, curadora do repositório, moradora do Complexo do Alemão, destacou a importância de registrar e salvaguardar produções periféricas e faveladas que mostram a vida, afetos, ancestralidades e formas de resistência, muitas vezes invisibilizadas pelas estruturas de poder.   “Preservar memória não é apenas guardar documentos, mas reconhecer a potência de vozes, narrativas e vivências que resistem cotidianamente. Muitas das vezes essas produções são invisibilizadas pelas estruturas de poder”.   O bibliotecário Thiago de Oliveira, afirmou que “pensar a memória das favelas, periferias e comunidades tradicionais é pensar em direitos. Muitas das histórias dessas populações foram apagadas pela negação do direito à memória. Realizar uma ação de sistematização, tratamento, armazenamento e preservação desses saberes, de forma colaborativa e a partir de quem os constrói, é urgente e necessário para a promoção da justiça epistêmica”, defendeu. Entre as iniciativas participantes do projeto estão o Museu Sankofa Memória e história da Rocinha; o Museu da Maré; a Agência de Comunicação Independente Lume, localizada em Rio das Pedras; o Jornal Comunitário Fala Manguinhos; o Projeto Flagra, inciativa social de fotografia na Cidade de Deus; o programa de documentação e pesquisa fotográfica do cotidiano das periferias Imagens do Povo, localizado na Maré; o Jornal  Fala Roça, com notícias da Rocinha, o site de notícias RioOnWatch, entre outras.   “Estava ansioso para iniciar o processo de formação e conhecer essa iniciativa de relevância para nós, moradores das favelas e periferias. Sempre fomos tolhidos de nossos direitos à memória e à história por aqueles que estiveram no poder. Este processo abre espaço de troca e de fortalecimento de redes, reconhecendo as memórias como resistência e como direito”, afirmou Antônio Firmino, co-fundador do Museu Sankofa Memória e história da Rocinha. Após o debate, os participantes realizaram uma dinâmica de exposição de objetos, fotografias, escritas e itens importantes preservados com o tempo que possuíam ligação direta com lembranças pessoais dos participantes. A vivência trouxe a dimensão simbólica e pessoal da memória para serem experimentadas.   “Foi um momento emocionante onde pudemos ver e conhecer as histórias por trás dos objetos, como fotografias, roupas, e até alguns inusitados, como um facão, que representava uma memória de família.  Cada pessoa, com sua história e seu objeto, trouxe uma camada única para refletirmos juntos”, relatou Priscila Silva, representante do RioOnWatch.  Impulso de Gerações O subprojeto Repositório Saberes Populares faz parte da meta 1 do projeto “Impulso de Gerações”, que integrao programa Favelas e Periferias pelo Direito à Vida, iniciativa da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz com recursos de emenda parlamentar, que tem o objetivo de realizar ações educacionais para promoção de saúde. * Fotos da matéria: Monara Barreto 

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EFA 2030 encerra II Seminário Bianual de Saúde e Ambiente na Fiocruz Bahia  Por Claudio Cordovil – EFA 2030Publicado em 02/09/2025 10:01  A Fiocruz Bahia sediou na última sexta-feira (29/8) a sessão científica “Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030: sinergias entre saúde e clima”, que, conduzida pelo Coordenador da Estratégia Fiocruz Agenda 2030 (EFA 2030), Paulo Gadelha, encerrou  a programação do II Seminário Bianual de Saúde e Ambiente, iniciado na segunda-feira (25/8).  Na abertura de sua fala, Gadelha ressaltou que uma tríade estratégica formou-se para o enfrentamento de crises globais interligadas de um ponto de vista climático, social, econômico e sanitário: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o Marco de Sendai e o Acordo de Paris. Estes são documentos que, de algum modo, espelham as virtudes do multilateralismo, hoje fragilizadas por movimentos políticos que priorizam agendas nacionalistas, como o slogan ‘Make America Great Again (MAGA). O ex-presidente da Fiocruz explicou que a Fiocruz adotou a Agenda 2030 como eixo estratégico de sua atuação dado o fato de esta priorizar o mote de “não deixar ninguém para trás”, o que pressupõe uma mirada para além das médias estatísticas e a concentração de esforços nas populações mais vulnerabilizadas por doenças, pobreza e desastres climáticos.  O papel da saúde na Agenda 2030 Gadelha ressaltou a centralidade do ODS 3 (Saúde e Bem-Estar) na Agenda 2030, com sua ênfase na cobertura universal de saúde e acesso a vacinas, assistência médica e tratamentos, ressalvando que esta deve ser vista de uma forma holística, na medida em que nela determinantes sociais, ambientais e econômicos da saúde estão interligados. De fato, a relação simbiótica entre a Agenda 2030 e a saúde não lhe passou despercebida, pois a seus olhos se afigura como indicador e condição para o desenvolvimento sustentável. Se a agenda avança, a saúde melhora. Se a saúde retrocede, os ODS ficam comprometidos. Outro ponto abordado foi a relação entre mudanças climáticas e doenças. Gadelha destacou que o aumento da temperatura, os eventos climáticos extremos e a alteração no padrão de doenças causadas por vetores irão exigir adaptações dos sistemas de saúde. A crise climática, a seu ver, deve ser concebida como uma crise de saúde. Crise climática e saúde pública “O aquecimento global é a maior ameaça à saúde humana, e o Acordo de Paris é potencialmente o tratado de saúde mais importante do século XXI” Nas palavras do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, Gadelha vê uma urgente convocação para a integração das agendas climática, sanitária e de desenvolvimento sustentável.  Com 5% das emissões globais de carbono derivadas do setor saúde, Gadelha vê este como um locus fundamental para estratégias de mitigação. No entanto, não convém se esquecer das estratégias de adaptação: a reorganização dos sistemas de saúde, capacitação de profissionais e desenvolvimento de políticas públicas alinhadas à transição climática. A Fiocruz vem ampliando sua atuação neste campo e já tem pronta a Estratégia Fiocruz Clima e Saúde, bem como planeja a criação de centros especializados como o Centro de Clima e Saúde de Rondônia, já contabilizado como um dos legados do Ministério da Saúde para a COP 30, que acontecerá no mês de novembro em Belém. Desafios globais e o papel do Brasil Mas nem tudo são boas notícias. Gadelha lembrou que 75% das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 estão estagnadas ou em regressão. A dívida externa dos países em desenvolvimento, os impactos da Covid-19 e a falta de indicadores robustos para aferir resultados seriam algumas das razões do fracasso. Mas ainda há que se conservar uma gota de esperança, dado o papel estratégico que o Brasil tem assumido no cenário global ao pautar debates sobre ciência, tecnologia e inovação e revelar liderança no campo da defesa da equidade. É do Brasil, por exemplo, a proposta já reconhecida internacionalmente de incluir, na Agenda 2030, o ODS 18, orientado para o combate ao racismo estrutural. O papel do multilateralismo em tempos de retorno do obscurantismo foi abordado por Gadelha. Ele também criticou o crescimento do negacionismo climático e afirmou que nesse contexto a Fiocruz tem procurado articular ciência, políticas públicas e saberes tradicionais, materializados em iniciativas como o Programa Integrado de Territórios Saudáveis e Sustentáveis (PITSS) e a Vigilância Popular em Saúde, já incorporados pelo Ministério.  Preparação para a COP30 e próximos passos Para o coordenador da EFA 2030, a participação da Fiocruz na preparação da COP30 será um divisor de águas na integração entre saúde e clima. Segundo ele, a instituição neste momento está envolvida em articulações com redes científicas, organizações internacionais e movimentos sociais para colocar a saúde como eixo central nas negociações sobre o clima. Gadelha anunciou também que serão apresentados nos eventos preparatórios e na própria COP 30 a Rede de Saúde e Clima Brasil e o lançamento do Corredor de Tecnologias Sociais, voltado para experiências com comunidades tradicionais na Amazônia. Reveja a apresentação na íntegra aqui.

ENSP recebe gestores municipais de diferentes regiões do país para oficina e entrevistas sobre uso de tecnologias digitais na gestão do SUS

Por Observatório do SUS (ENSP/Fiocruz)Publicado em 01/09/2025 17:3  Nos dias 27 e 28 de agosto, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) recebeu gestoras e gestores municipais das cinco macrorregiões brasileiras para participar de uma série de entrevistas e de uma oficina sobre o uso de tecnologias digitais na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). A atividade foi coordenada por Mariana Vercesi de Albuquerque, pesquisadora da ENSP/Fiocruz, e organizada pelo Observatório do SUS (ENSP/Fiocruz), em parceria com o projeto “Implicações das Tecnologias Digitais nos Sistemas e Serviços de Saúde”, da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, sob coordenação especial ligada à Presidência da Fiocruz, por meio da Iniciativa Saúde Amanhã, dedicada à prospecção do sistema de saúde brasileiro.  O objetivo da série de entrevistas foi registrar, analisar e divulgar experiências relevantes de uso de tecnologias digitais na gestão do SUS, com foco especial na Atenção Primária à Saúde (APS). Para promover trocas e reflexões mais aprofundadas, a programação incluiu, no segundo dia, uma oficina em formato de roda de conversa, oferecendo um espaço coletivo de escuta, diálogo e compartilhamento das experiências municipais no campo da saúde digital.  Para o coordenador do Observatório do SUS e vice-diretor da Escola de Governo em Saúde da ENSP/Fiocruz, Eduardo Melo, a iniciativa reforça o papel estratégico do Observatório. “A agenda de tecnologias digitais tem importância estratégica no contexto mais amplo da digitalização do SUS. Ao acompanhar e dar visibilidade às experiências municipais, o Observatório do SUS cumpre sua missão de contribuir para que a gestão pública de saúde seja fortalecida a partir do diálogo com a academia e com os serviços. Esta oficina representa um dos esforços que temos feito para aproximar esses campos e reforça que a saúde digital é uma das pautas que vêm sendo acompanhadas pelo Observatório.”  Foto: Virginia Damas (ENSP/Fiocruz) Participaram da agenda gestores e gestoras de diferentes regiões do país, como Glória Araújo Pereira, Coordenadora da Rede de Atenção Primária à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande/MS; Gustavo Godoy, Gerente Geral de Saúde Digital da Secretaria de Saúde do Recife/PE; Jane Sescatto, superintendente de Gestão da Secretaria Municipal de Curitiba/PR; Larissa Cristina Terrezo Machado, Superintendente de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro/RJ; Rachel Cristine Diniz da Silva, Gerente de Planejamento e Projetos da Secretaria Municipal de Saúde de Vila Velha/ES; Sanay Souza Pedrosa, Diretora do Departamento de Inteligência de Dados da Secretaria de Saúde de Manaus/AM; e Tatiane Filipak, Secretária de Saúde de Curitiba/PR. O grupo trouxe olhares diversos sobre o processo de digitalização do SUS, tanto pela trajetória profissional de cada convidado quanto pela atuação em diferentes funções de gestão, garantindo a representatividade nacional e enriquecendo os debates.   De acordo com Anamaria Schneider, assessora do Observatório do SUS, a aproximação entre diferentes atores foi um dos pontos mais relevantes. “Iniciativas como esta permitem não apenas conhecer inovações em curso nos municípios, mas também criar espaços de reflexão conjunta, aproximando gestores, serviços e pesquisadores. Esse movimento amplia a compreensão sobre os desafios da digitalização do SUS e fortalece a construção de respostas colaborativas”.  Durante as atividades, os participantes ressaltaram a importância de iniciativas como essa para dar visibilidade às experiências locais e criar um ambiente de troca entre diferentes cidades. Muitos destacaram que espaços de diálogo como o proporcionado pela ENSP permitem aproximar academia, gestão e serviços de saúde, ampliando a compreensão sobre os desafios e caminhos da transformação digital do SUS.  A oficina, realizada no dia 28, buscou refletir sobre o papel das tecnologias digitais na gestão em saúde, os desafios de implementação e sustentação das iniciativas, e a integração dessas experiências às políticas nacionais de saúde digital. Em um ambiente colaborativo, as discussões valorizaram a diversidade de contextos municipais e a necessidade de fortalecer canais de escuta entre os diferentes níveis de governo.  De acordo com Marcelo Fornazin, pesquisador da ENSP/Fiocruz e coordenador do GTISP da Abrasco, “as entrevistas e a oficina foram muito importantes para a gente documentar, dar visibilidade e disseminar boas práticas de uso de tecnologias digitais e inovações de saúde digital na atenção primária e nos municípios do Brasil. Nós percebemos uma efervescência de iniciativas como telesaúde, sistemas de agendamento, redução de absenteísmo, vigilância em saúde e uso de dados para epidemiologia.”  Ele ressalta que muitas dessas iniciativas estão em curso nos municípios, mas ainda sem o devido alcance nacional: “muitas vezes não conseguimos ter a real dimensão de quanto isso está espalhado pelo país. Reunir essas gestoras e gestores para discutir essas inovações permite perceber esse movimento e fortalecer, cada vez mais, o protagonismo dos municípios na área de saúde digital.”  Foto: Divulgação (ENSP/Fiocruz) Além da troca de conhecimentos, a atividade também promoveu conexões entre os participantes, que relataram sair do encontro motivados em continuar o diálogo iniciado na ENSP.  Na avaliação de Mariana Vercesi de Albuquerque, pesquisadora da ENSP/Fiocruz e coordenadora da atividade, “os municípios estão liderando experiências importantes de uso de tecnologias digitais na gestão do SUS. Queremos enxergar, com amplitude e profundidade, o que está acontecendo hoje a partir dos municípios e precisamos dar visibilidade a essas experiências. A oficina constituiu um espaço privilegiado de diálogo e troca de aprendizados entre gestores e acadêmicos. Os resultados permitirão elencar grande parte das questões estratégicas e dos pontos críticos que permeiam o uso das tecnologias digitais no SUS, com foco na gestão do sistema. Os aprendizados podem apontar caminhos para inspirar outras experiências e colaborar com a Estratégia de Saúde Digital para o Brasil e com o Programa SUS Digital. Todos ressaltaram a importância do Observatório do SUS ao dar espaço para a divulgação das experiências municipais, por meio das entrevistas com cada convidado e do relatório síntese da oficina.”  As entrevistas em vídeo e materiais de acesso aberto serão publicadas em breve pelo Observatório do SUS, ampliando o conhecimento sobre as experiências em saúde digital desenvolvidas em diferentes municípios do país.  Em outubro de 2024, o Observatório do SUS, em parceria com a equipe do projeto “Implicações das Tecnologias Digitais para o Sistema de Saúde”, da Iniciativa Saúde Amanhã/ Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, também promoveu …

AMAZÔNIA EM ALERTA: evento debate os impactos da crise climática na saúde pública

Por Por Elenita Araújo / EbserhPublicado em 25/08/2025   Ação integrou as mobilizações preparatórias rumo à COP30, com um dia de debates e rodas de conversa entre diferentes esferas do sistema de saúde. Belém (PA) – A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP30), que será realizada em Belém este ano, será palco de uma grande mobilização global em prol das negociações climáticas. Com o objetivo de inserir a saúde nesse debate, o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (CHU-UFPA), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), promoveu o seminário “Amazônia em Alerta: Saúde e Clima rumo à COP 30”. A iniciativa reuniu autoridades, pesquisadores, gestores de saúde e representantes da sociedade civil para discutir os impactos da crise climática na região, na última quinta-feira (21), no Hotel Sagres, na capital paraense. A programação, promovida pelos hospitais universitários João de Barros Barreto (HUJBB) e Bettina Ferro de Souza (HUBFS), que integram o CHU-UFPA, foi aberta ao público e fez parte das mobilizações preparatórias para a COP30. O evento contou com um dia inteiro de debates e rodas de conversa entre diferentes esferas do sistema de saúde. Estiveram presentes representantes da Ebserh, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ministério da Saúde e Central Única dos Trabalhadores (CUT). Para a superintendente do CHU-UFPA, Regina Barroso, é urgente tratar a crise climática também como uma crise sanitária. “O aumento das temperaturas, as enchentes, as secas e os desastres ambientais agravam os problemas de saúde já existentes e podem acarretar o aparecimento de doenças decorrentes das mudanças climáticas. Por isso, os hospitais universitários da Amazônia precisam se preparar para dar respostas rápidas e qualificadas a essas emergências”, afirmou. Segundo Paulo Gadelha, doutor em saúde pública e coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), a realização do evento é especialmente relevante neste momento que antecede as discussões climáticas. “Esse evento representa algo muito significativo, primeiro porque está acontecendo em Belém, nesse momento decisivo. A Amazônia sofre os impactos mais graves da crise climática, mas é também onde nascem, com vigor, as possibilidades de resistência e de soluções”, destacou. Gadelha também anunciou a criação do Centro de Clima e Saúde, em Rondônia, uma iniciativa da Fiocruz que será levada como legado para a conferência internacional. Segundo ele, o centro funcionará como uma “âncora importantíssima” para pesquisas, políticas públicas e estratégias de preparação do sistema de saúde para enfrentar os efeitos da emergência climática, beneficiando não apenas a região amazônica, mas todo o Brasil. A diretora de Gestão de Pessoas da Ebserh, Luciana Viana, que representou o presidente da estatal, Arthur Chioro, também enfatizou a relevância do encontro no contexto da COP30. Para ela, discutir os impactos da emergência climática a partir da saúde, em especial no âmbito dos hospitais universitários, é fundamental para que as instituições se preparem diante das transformações já em curso. “O evento é extremamente relevante porque traz um recorte para a área da saúde, para os impactos na saúde humana. Os hospitais universitários da Rede Ebserh também devem se posicionar e se preparar para essa mudança”, afirmou. Luciana lembrou que em sua fala apresentou o esforço da rede na adequação da atenção hospitalar à saúde indígena, mas ressaltou que os desafios vão além, incluindo mudanças no perfil epidemiológico da população e a necessidade de modernização da infraestrutura hospitalar para reduzir os impactos ambientais das operações. Ela reforçou o compromisso da estatal com as agendas climáticas e ambientais, em parceria com o Ministério da Saúde e em alinhamento às estratégias do Ministério da Educação, ao qual a empresa pública é vinculada. Política ambiental da Ebserh A Política Ambiental da Rede Ebserh orienta todas as decisões e ações da estatal, com um forte compromisso com a sustentabilidade. A Estratégia 2024-2028 estabelece 24 objetivos, entre eles o de promover sustentabilidade ambiental e responsabilidade social em Rede, no pilar ESG. Para cumpri-lo, a estatal lançou sua nova Política Ambiental, que define diretrizes para administração, proteção e conservação no âmbito dos hospitais universitários federais. O documento orienta todas as unidades a atuarem de forma ética e monitorada, incentivando uma cultura sustentável que envolva trabalhadores, usuários, terceirizados e fornecedores. Também prevê ações de formação e educação ambiental, integrando a sustentabilidade ao planejamento e às decisões da Rede Ebserh.

Fiocruz e USP promovem diálogo internacional sobre sistemas alimentares, saúde e justiça social

João Paulo Cavalcante/OBHA-Fiocruz Brasília Evento será realizado no Rio de Janeiro, em 5 de setembro, com a presença de especialistas nacionais e internacionais A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em articulação com a Universidade de São Paulo (USP), realiza o Encontro Estratégico Fiocruz–USP: “Sistemas Alimentares em Disputa – Ciência, Regulação, Políticas Públicas e Justiça Social”.                    O evento ocorrerá no Rio de Janeiro, no dia 5 de setembro, e reunirá cerca de 100 participantes no Hotel Windsor Flórida, entre pesquisadores, estudantes e representantes da sociedade civil, para debater os impactos dos sistemas alimentares sobre a saúde coletiva, os modos de vida e a democracia. Organizado pela Fiocruz Brasília, por meio do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA), o encontro é uma resposta direta aos crescentes ataques à ciência e à tentativa de descredibilizar evidências consolidadas sobre os efeitos nocivos dos alimentos ultraprocessados. A iniciativa reforça a cooperação estratégica entre duas das mais importantes instituições públicas de ciência e saúde do país — Fiocruz e USP — e busca promover políticas alimentares saudáveis, sustentáveis e justas. A programação conta com painéis interdisciplinares, uma conferência internacional e nomes de destaque, como Carlos Monteiro (USP), formulador do conceito de ultraprocessados e referência global em saúde pública; e Claude Fischler, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS – França), antropólogo renomado por suas pesquisas sobre alimentação, comensalidade e cultura. Entre os temas abordados estão: Regulação dos alimentos ultraprocessados e desafios de políticas públicas; Soberania alimentar, justiça social e os impactos territoriais da alimentação; Pressões da indústria e papel do advocacy; e Desigualdades alimentares relacionadas a raça, gênero e classe. Conferência Internacional – Claude Fischler e Carlos MonteiroO ponto alto do evento será a conferência da tarde, que propõe um diálogo inédito entre Carlos Monteiro e Claude Fischler, conectando ciência e cultura alimentar. Com tradução simultânea, os especialistas discutirão os sentidos simbólicos da alimentação nas sociedades contemporâneas e os impactos dos sistemas alimentares na saúde pública. O evento resultará em uma edição especial dos Cadernos OBHA, reunindo análises, registros e propostas que contribuam para políticas públicas baseadas em evidências e sensíveis à diversidade cultural brasileira. Confira a programação aqui. Garanta a sua inscrição aqui. Serviço: “Sistemas Alimentares em Disputa – Ciência, Regulação, Políticas Públicas e Justiça Social” Data e local: 5/9/2025Horário: das 9h às 16h15Local: Hotel Windsor Flórida – Flamengo, Rio de JaneiroProgramação: clique aquiMais informações e inscrições: clique aqui

Comunidade acadêmica e científica da Amazônia se reúne em Manaus com presidente da COP 30

Por Fiocruz AmazôniaPublicado em 18/08/2025 15:48 Imagem: COP 30/Divulgação O Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, em parceria com as universidades, instituições de ciência e tecnologia (ICTs) e institutos federais da Amazônia Legal, promove nos dias 19 e 20 de agosto, na Universidade Federal do Amazonas, em Manaus, o Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP 30. O encontro, que contará com a presença do presidente da COP 30 no Brasil, o embaixador André Côrrea do Lago, tem como objetivo apresentar um documento elaborado por 40 instituições com contribuições de soluções para a Agenda de Ação do Mutirão Global contra a Mudança do Clima para o período de 2025 a 2035, bem como para a COP30, que acontece em Belém, em novembro. A iniciativa está sendo organizada por instituições como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes (Norte); o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – CONIF (Norte); a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz/MS; o Instituto Evandro Chagas – IEC/MS; o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA; Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG; Rede de Universidades Estaduais da Amazônia Legal (ABRUEM). Os eixos que serão discutidos no encontro são: Transição nos Setores de Energia, Indústria e Transporte; Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade; Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares; Resiliência em Cidades, Infraestrutura e Água; Desenvolvimento Humano e Social; Objetivos Transversais – Financiamento, Inovação e Governança, entre outros. SERVIÇO Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP 30 Dia 1 Data: 19 de agosto de 2025, a partir de 8h30 Local: Auditório Vitória Régia, Centro de Ciências do Ambiente (CCA) – Campus Universitário Sen. Arthur Virgílio Filho – Setor Sul Dia 2 Data: 20 de agosto de 2025, a partir de 8h30 Local: Auditório Eulálio Chaves, Centro de Ciências do Ambiente (CCA) – Campus Universitário Sen. Arthur Virgílio Filho – Setor Sul

Fiocruz divulga nota em defesa da Saúde Pública

Por Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)Publicado em 15/08/2025 11:55 Em nota divulgada nesta sexta-feira (15/8), a Fiocruz, historicamente comprometida com a democracia, reforça seu apoio ao Programa Mais Médicos para o Brasil, reafirmando seu compromisso com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Abel Ramírez Fálcon realizando atendimento domiciliar de uma senhora. Foto: Araquém (Acervo Casa de Oswaldo Cruz- COC/Fiocruz). Abaixo, leia a nota na íntegra. “Nota em defesa da Saúde Pública A comunidade da saúde pública brasileira foi surpreendida, nesta quarta-feira (13/8), com a revogação e a imposição de restrições a vistos norte-americanos de funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) diante da justificativa de participação destes profissionais no Programa Mais Médicos. A descabida restrição, que alega estar baseada em parceria mediada pela Opas entre 2013 e 2018, cita os sanitaristas Mozart Sales, atual secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, atual coordenador-geral para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) · Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Enquanto instituição pública dedicada à vida, à Ciência e à Saúde, historicamente comprometida com a democracia, a Fiocruz se solidariza com os dois sanitaristas atingidos pelas medidas restritivas e reforça seu apoio ao Programa Mais Médicos para o Brasil, reafirmando seu compromisso com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), maior sistema público universal de saúde e reconhecido globalmente como referência e inspiração. O Programa Mais Médicos, instituído no Brasil originalmente por Medida Provisória, foi objeto de intenso debate nacional do qual resultou a Lei 12.871, de 22 de outubro de 2013, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela Presidência da República. Com esse dispositivo legal, tornou-se realidade o princípio da Constituição brasileira que estabeleceu a responsabilidade do Estado no provimento e na formação de recursos humanos para o SUS. Técnica em enfermagem em atendimento domiciliar no sertão do Jeremoabo. Foto: Araquém (Acervo Casa de Oswaldo Cruz- COC/Fiocruz). As análises sobre os resultados do Programa Mais Médicos deixam claras suas contribuições efetivas para a redução das desigualdades em saúde no Brasil. Uma extensa lista de estudos avaliativos indicam que o programa reduziu a escassez de médicos em áreas remotas, além de apontar que os usuários estavam satisfeitos com o atendimento proporcionado pelo Programa. Os estudos de avaliação também relatam um menor número de internações hospitalares evitáveis nos municípios atendidos e melhorias nos serviços prestados. Vários estudos relataram ainda uma melhora importante nas relações médico-paciente, bem como aumento na continuidade do tratamento. A Fiocruz reafirma a intransigente defesa da democracia e soberania do país e seu compromisso com a construção de sistemas de saúde socialmente mais justos”.  Na Fiocruz Mais na FiocruzAgência Fiocruz de Notícias

Rumos da Agenda 2030 são discutidos em Seminário na Fiocruz

Por Carlos Gustavo TrindadePublicado em 15/08/2025 10:36 Pouco após a reunião do High-level Political Forum (HLPF) na cidade de Nova York, em julho, o seminário “Agenda 2030 e ODS – Onde estamos, para onde vamos?”, série dos Seminários Avançados em Saúde Global e Diplomacia da Saúde promovido pelo Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS/Fiocruz), teve um consenso dos participantes quanto a comparar os avanços no desenvolvimento sustentável de 2015 com a atual fase crítica de seguidos retrocessos, sobretudo nos campos político, social e econômico, com grandes reflexos negativos na Agenda 2030.   No HLPF, todos os países do mundo, anualmente, se reúnem para fazer um balanço da Agenda 2030. Esse fórum está ligado ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), um dos grandes segmentos que compõe as Nações Unidas no qual, em 2015, ano de grandes mudanças em prol do desenvolvimento, foi lançado o plano global adotado pela ONU, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, visando um futuro mais sustentável e justo para todos até 2030, conhecido como Agenda 2030.  Negação dos EUA à Agenda 2030 Na abertura do evento, Paulo Buss, diretor do CRIS/Fiocruz e ex-presidente da Fundação, criticou a atual política protecionista dos EUA, que tem negativos reflexos nas metas dos ODS, da qual se desligou recentemente. Para ele, trata-se de um rechaço brutal da maior potência militar e política do planeta, os EUA, na reunião de março da Assembleia Geral das Nações Unidas.  “A retirada dos EUA como uma ostra fechada em seu unilateralismo, com imposições que transformam a ordem econômica, agora tentando alterar a ordem política (…), e ignorando solenemente que o país participe da Agenda 2030”, lamentou Buss.  Anos de esperança de uma nova realidade social Comparações sobre avanços e retrocessos no desenvolvimento sustentável tem reforço na apresentação de Santiago Alcázar, embaixador e pesquisador honorário da Fiocruz.  Ao passar a ideia de uma ‘fotografia’ baseada no universo de pessoas, das instituições, das agências terceirizadas para refletir qual era, em 2015, o estado do mundo, remete às séries fotográficas de Sebastião Salgado sobre a realidade social. Isso para saber se nós havíamos avançado ou não com respeito à ‘fotografia’ original que foi tirada em 1945, quando as Nações Unidas nasceram das cinzas da Segunda Guerra. “Avançamos no sentido de fazer um mundo melhor, melhor para todos, e aqui na Agenda 2030 esse mundo melhor é sem deixar ninguém pra trás”, afirma.  A Carta das Nações Unidas, criada após o conflito, é citada por Alcázar como importante marco para o desenvolvimento humano, sobretudo em seu Artigo 55, no qual estão as principais causas dos conflitos: pobreza, desigualdade, exclusões. Mesmo assim, segundo ele, optou-se por visão local estreita e mesquinha. Cita como exemplos disso dois planos de reconstrução, o Plano Marshall, na Europa, e o do Japão, ambos pelo temor da ameaça comunista. Ele lembra que o propósito das Nações Unidas de paz sempre encontrou dificuldades, inclusive, dois meses após sua assinatura, quando explodiu a bomba atômica em território japonês.  A Cúpula do Milênio, em 2000, foi, segundo o pesquisador a primeira a dar ao tema do desenvolvimento a sua verdadeira dimensão. Mas, recorda que o processo carecia de um empuxo político mais claro e decidido. A oportunidade disso, recorda, veio em 2015, annus mirabilis, que teve, em maio, a Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, com a resolução A/Res/70/1 Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e em dezembro na COP-21, o Acordo de Paris. Toda essa esperança começou a mudar a partir da pandemia da Covid-19 e, posteriormente, com a Guerra da Ucrânia e de Gaza. “Pouco a pouco, aquele espírito solidário foi se desfazendo em fiapos”, simboliza. A Agenda 2030 talvez seja, na opinião de Alcázar, o documento mais ambicioso concebido para alcançar o desenvolvimento sustentável em escala global. Tem toda essa interação com todo o universo das Nações Unidas que envolve estados membros, autoridades globais, representantes da sociedade civil, povos originários, cientistas, academia, setor privado. Porém, salienta que há as múltiplas crises, o aumento das iniquidades, o unilateralismo, a cultura da indiferença, a falta de solidariedade e do espírito de cooperação, a crise de governança global e dificuldades financeiras, sobretudo na África. “Acho que podemos reordenar todas as relações para realmente completarmos a missão que havia sido iniciada em 1945, completou ao final de sua palestra. Revisão do conceito de desenvolvimento Em tempos da possibilidade de revisão dos ODS por meio do Relatório Luz da Sociedade Civil, tem sido uma tônica a exposição de ideias na tentativa de melhorá-la. Rômulo Paes, pesquisador sênior da Fiocruz, presidente da Abrasco e assessor do Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030), percebe no Brasil quatro pontos fundamentais para se pensar a situação atual da Agenda 2030 na sua implementação. Primeiro, ressalta a crise da governança global como um mau momento para se pensar num projeto compartilhado de desenvolvimento onde há uma situação de crise em função das desconfianças quanto a um dos autores fundamentais da governança global, que são os EUA, e de uma própria coalizão internacional que desafia essa arquitetura política que se construiu para o planeta após a Segunda Guerra Mundial.  No caso brasileiro, situa, há três fatores importantes: um é o fato de nós termos um avanço na institucionalidade da implementação da Agenda no Brasil, que é a Comissão Nacional dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a CNODS. O outro, lembra, é que o Brasil pretende apresentar um novo relatório no ano que vem – Relatório Nacional Voluntário (RNV). “Ao fazer isso, a comissão também ganha vitalidade”, vislumbra.  O terceiro ponto, situa Paes, é a questão da COP 30 no Brasil, em Belém, este ano, não só pelo aspecto de sobreposição de temas que envolvem a Agenda 2030 com os temas da conferência do clima, mas também porque parte do temário que está sendo debatido lá e que diz respeito à nova agenda de desenvolvimento. Muitas das escolhas que os países farão ou estão fazendo constarão nessa própria discussão da agenda de desenvolvimento, que é nova.  Por fim, Paes menciona a necessidade de se definir o conceito de desenvolvimento. Segundo ele, passou …